Quando a primeira adaptação de Desventuras em Série foi para as telas eu mal sabia o que eram adaptações. Lá em 2004, quando a saga Harry Potter abria caminho para as adaptações de livros infanto-juvenis, os livros de Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler) ganharam sua versão nas telonas. Os 3 primeiros livros – do total de 13 – foram adaptados para pouco mais de uma hora de tela e até agradou. Mas muito se perdeu e nem o elenco de peso que contava com Jim Carrey e Jude Law foi capaz de fazer com que o texto e todo o resto da produção fluíssem.
13 anos depois, no dia 13 de janeiro de 2017, nós fomos presenteados com uma adaptação digna que as desventuras do irmãos Baudelaire precisavam. A primeira temporada da série da Netflix conta com 8 episódios que adaptam os 4 primeiros livros da série. Foram 2 episódios dedicados inteiramente à trama de cada um dos livros e o resultado só poderia ser algo ótimo – apesar de muitos discordarem.
A começar pelo envolvimento do próprio Daniel Handler, o autor dos livros, que escreveu o roteiro da série e participa como um dos produtores executivos. Parece que tudo foi reescrito para sair do jeitinho que cada um de nós imaginamos a cada página virada. Esqueça tudo o que você viu no filme pois as diferenças são grandes e tornaram a trama ainda melhor.
Agora, se você nunca ouviu falar da história dos irmãos Baudelaire, não vai gostar muito do que verá. Não é um história feliz – o que aqui significa que não há riso no caminho dos irmãos. Violet, Klaus e Sunny perderam os pais em um incêndio que tomou a casa da família Baudelaire. Agora eles precisam ficar com um tutor até que Violet, a irmã mais velha, complete 18 anos. O escolhido para isso é Conde Olaf, um ator charlatão que só quer mesmo é colocar as mãos na fortuna dos órfãos.
Conde Olaf, o vilão mais vilanesco da história, é interpretado por Neil Patrick Harris. O ator demora um pouco a se soltar mas depois entrega um Olaf por vezes melhor do que vimos com Jim Carrey. Há um ótimo equilíbrio entre a falta de inteligência e a perversidade da personagem. Pode soar absurdo, aliás, a construção das personagens mas, acredite, certas coisas que nos parecem óbvias – e realmente são – estão ali única e exclusivamente porque o tom da trama é esse. Há de se mergulhar no universo dos Baudelaire para poder aproveitar ao máximo as esquisitices da história.
Outro ponto positivo da trama é a fotografia. A série parece uma mistura de Tim Burton com Wes Anderson e as cores cinzas ajudam a dar o destaque em algumas cores que aparecem no decorrer dos episódios. Mas o grande trunfo, ao meu ver, foi inserir Lemony Snicket na história de modo que o personagem tenha o destaque que merece, afinal ele é parte essencial da trama.
Já os efeitos especiais deixam um pouco a desejar principalmente os aplicados em Sunny. Mas bem, perto de todas os “absurdos” da trama, esse é o menor dos problemas.
Desventuras em Série tem um universo peculiar e, é preciso abstrair e, soltar a imaginação para se acompanhar numa boa os episódios. Pensar demais aqui não funciona já que é uma série infanto-juvenil. Fugir da realidade e acompanhar as desgraças dos irmãos é um exercício de abstração e eu recomendo a todos.
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